museu de arte popular

Avatarfechado em Belém mas aberto aqui

Depois do colóquio

Apontamentos/balanço do colóquio de ontem por Alexandre Pomar:
Propostas não faltam: Musealizar o museu de 1948 (parte dele, em especial a Sala de Entre Douro e Minho, a mais conseguida), documentando e contextualizando como se fez este museu de Arte Popular nos anos 40, nas suas particulares condições de reflexão identitária, estética, museográfica, política, etc - a arte popular entre vanguardismo e tradicionalismo), e actualizar as suas direcções de trabalho. Explorar as memórias da Exposição do Mundo Português, de que o edifício é uma sobrevivência parcelar e parcial. Valorizar o que neste museu antecede a autonomia conceptual do design, considerando quer o trabalho criativo do grupo de pintores-decoradores (também arquitectos de interiores, cenógrafos, ilustradores, designers "avant la lettre") que trabalhou para o SPN/SNI de António Ferro, quer a própria produção popular e tradicional que o Museu recolheu). Alargar a área expositiva ou programar linhas de investigação e exposições temporárias à documentação sobre o Inquérito da Arquitectura Popular em Portugal, da Associação dos Arquitectos, 1955-61. Ou à criação artística nas margens da arte popular, pelos caminhos da "outsider art" e da "art brut". Revitalizar a relação entre o espaço museológico e a criação contemporânea, nas áreas das produções tradicionais sobreviventes e de novas práticas artesanais, que se podem designar às vezes por design e craft. Etc.

Reabrir como Museu de Arte Popular é o objectivo imediato, mas este deve acompanhar-se já com exerícios de imaginação sobre as condições dessa reabertura, que nunca poderá ser apenas repor o que lá estava até agora, em condições penosas de paralisia e decadência. Parte essencial da reflexão que agora se deve abrir é sobre o enquadramento institucional da entidade MAP: Continuar num Instituto dos Museus que em 2006 foi incapaz de defender a sua existência e cujos problemas de funcionamento-orçamento parecem irresolúveis (agravado pelas condições actuais que regulam os concursos para as direcções dos museus*)? Ou inventar uma nova estrutura funcional e de direcção, fundacional ou empresarial, semi-privada ou privada, a actuar sob a vigilância da tutela?
*Se um director (ou sub) da Cinemateca não precisa de ser funcionário público - e foi o actual ministro da Cultura que como advogado tratou de implantar aí uma diferente ordem burocrática -, porque é que só as pessoas com vínculo efectivo à função pública podem concorrer à direcção de um museu do IPM/IMC?

Alexandre Pomar

1 comentários:

24 de junho de 2009 às 15:33 p disse...

Confesso que acho estranha a ideia de musealizar parte do Museu, em especial empregando critérios tão subjectivos como "salas mais bem conseguidas". Na minha muito modesta opinião, acho que o museu em tudo beneficiaria de um acto "musealizador" global associado a todo o tipo de ferramentas interpretativas (desde a exposições de materiais históricos, design, craft, artes plásticas, arquitectura, sobre temas associados nacional e internacionalmente... mas sempre tendo em vista a necessária manutenção da "ferramenta estética" que é o museu e a sua acção esteticizante do folklore.
Seleccionar "parcelas" do museu é uma violência pouco melhor do que integrar peças da sua colecção em outros edifícios. Como "dizia o outro" ou tudo ou nada.
Não podemos esquecer integrar nos nossos discursos sobre o Museu de arte popular que esta estrutura foi muito bem aproveitada, reconvertida (se é que podemos usar o termo, "reconvertido") depois do 25 de Abril. Ou seja, perante a retórica folklorista lançada por Ferro e Castro, o 25 de Abril só prosseguiu na mesma linha (ainda com sentidos e propósitos ideológicos diferentes)... até sugeria, para afastar muitos discursos que por aí andam que acusam esta preocupação de "revisionismo" ou "nostalgia" começar por articular o Museu com a esquecida Feira do Povo e o painel colectivo de celebração do 25 de Abril...


Pedro Félix
(antropologo)

Enviar um comentário