museu de arte popular

Avatarfechado em Belém mas aberto aqui

A directora do MAP Andreia Galvão envia votos de Boas Festas ao blog do MAP e aos seus leitores


Agradeço e saudo os incentivadores e subscritores do blogue do Museu de Arte Popoular desejando-lhes umas Boas Festas e um 2010 cheio de êxitos.

Aproveito para vos referir que tudo farei para estar à altura deste grande desafio que me foi confiado pela nova tutela do Ministério da Cultura, o de reabrir o MAP respeitando o seu carácter enquanto museu - documento de época, como também o de um museu português -um museu para o sec.XXI.

Para isso conto com o vosso já conhecido empenhamento e energia, mas também com o vosso imprescindivel apoio.

Andreia Galvão

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o comentário de Alexandre Pomar

Alexandre Pomar responde no seu blog à crónica de Nuno Artur Silva e comenta a nomeação de Andreia Galvão:
MAP: notícia e debates

Já passaram uns dias desde que Nuno Artur Silva * se despediu publicamente do Museu da Língua que dois ministros socialistas quiseram colocar em instalações herdadas da Exposição do Mundo Português. Em versão revista e actualizada, contextualizando nos cenários inventados por António Ferro (e a envolver numa gaiola de vidro dos arquitectos Mateus) a "celebração da Língua nas suas múltiplas realizações presentes".
Ainda não se deu conta da incongruência de associar os conteúdos interactivos e certamente divertidos que nos prometia para o interior dos pavilhões à expressão arquitectónica exterior das prioridades estratégicas da exposição dos anos 40. Os passados traumáticos comuns e os destinos das independências desaconselhavam, como é óbvio, a escolha de um palco tão ideologicamente datado (rústico-modernista?, fascista?). E o conjunto das pinturas murais que o edifício conserva (de Carlos Botelho, Tom, Estrela Faria, Eduardo Anahory, Paulo Ferreira e Manuel Lapa) são um património que inviabilizaria a utilização dos recursos tecnológicos anunciados.

Um humorista ressentido não tem graça e o humor a que nos habituou não é o da piada ignorante. Surprende por isso este exercício confessional com travo a falta de assunto (ou vice-versa).

Começa por ser pretensioso: "Em ano e meio, só por duas vezes participei, a título profissional e nunca remunerado, em iniciativas do Ministério da Cultura, e por convite deste. (Com grande probabilidade menos do que se não conhecesse o Ministro)." Depois confunde: (O Museu da Língua) "foi pensado para ali porque o dito Museu de Arte Popular passaria a integrar o Museu de Etnologia"; de facto nunca se disse tal, mas sim que o MAP era extinto e as suas colecções recolhiam-se no ME, o que é diferente.

Por fim passa por ignorante ao chamar ao MAP "o Museu que celebra o fake popular inventado por António Ferro para a exposição dos anos 40. (E continua) Pode ter a graça do kitsch e pode inclusivamente ser uma versão revista e actualizada que contextualize o lado feira do artesanato." O que se expôs em 1940, e antes nas Exposições de Paris e Nova Yorque (1937, 1939) não foi inventado por António Ferro mas sim por etnólogos que seguiam os critérios então actualizados da sua ciência, internacionalmente aceites e elogiados; à data da inauguração do MAP, em 1948, esses critérios eram já sujeitos a algumas críticas ideológicas e metodológicas, até por parte dum dos principais etnólogos do regime e colaborador de 40, Luis Chaves, mas era também o modernismo possível da equipa de arquitectos e decoradores que se atacava com gosto mais conservador. De facto, esperemos que o museu mumificado e decadente depois da demissão de Ferro (malquerido também pelo regime) renasça com alguma "graça do kitsch", entre outras qualidadses, e que a versão actualizada do MAP saiba prolongar as colecções e dispor de espaços anexos, como se previa nos democráticos anos 80 e 90, para as artes populares de hoje e para os crafts e artesanatos que as continuam ou reinventem.

Como declaração de interesses, já agora, devo acrescentar que foi igualmente como amigo pessoal do ministro, e não só, que pude discutir directamente com ele, em diversas situações particulares e formais, o absurdo desse projecto. E não houve falta de debate público.

* Crónica publicada no Económico (?) no dia 12 de Dezembro de 2009 com o título "Exposição do Mundo Português".

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A crónica sobre o MAP chegou-me por coincidência ao mesmo tempo que a notícia com as declarações da directora em funções desde 1 de Dezembro:

Andreia Galvão é a directora do Museu de Arte Popular
Por Isabel Coutinho, Público 21 Dez. 2009

Andreia Galvão é a nova directora do Museu de Arte Popular (MAP), em Lisboa, e já apresentou à tutela uma proposta de actuação estratégica para a reabertura deste museu no final de 2010. A ex-subdirectora do Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (Igespar), onde esteve cerca de quatro anos, foi indigitada a 1 de Dezembro e quer fazer do MAP um "museu do século XXI".
Professora na Universidade Lusíada, a arquitecta Andreia Galvão fez a sua tese de doutoramento sobre o trabalho de Jorge Segurado, o arquitecto que, na década de 1940, dirigiu a adaptação do pavilhão Vida Popular (realizado para a Exposição do Mundo Português) para Museu do Povo Português, mais tarde chamado Museu de Arte Popular.
(...)
"Estamos a montar a equipa e já apresentei à tutela uma proposta de actuação estratégica para a reabertura do Museu de Arte Popular no final de 2010", disse Andreia Galvão ao PÚBLICO. O MAP irá assumir-se como um "museu-documento, mas passível de ter um papel incentivador para a investigação nas diversas áreas disciplinares que o atravessam", explicou a directora, que também quer que este museu se assuma "como uma ponte entre o passado e o futuro através da contemporaneidade". (...)

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Reabrir o museu é uma prioridade, mas, ao mesmo tempo, conviria fazer acompanhar o processo de reabilitação do edifício e de reinstalação das colecções com a criação de condições para acolher o prolongamento do largo debate público que se mobilizou contra o encerramento.

Não se tratando de restabelecer apenas o que existia, há que considerar as variadas sugestões que se fizeram entretanto sobre possíveis direcções complementares do programa museológico a (re)instalar, em termos de montagem de longa duração e de exposições temporárias. Conhecendo-se as limitações financeiras e estruturais do Instituto de tutela (IMC), e reconhecendo-se as implicações deste equipamento nas áreas da economia, do emprego, do turismo, etc, há que ponderar outras possibilidades de gestão e/ou programação assentes em parcerias (público/privado) ou consórcios entre diversos organismos. Recordando as limitações de espaço de que sofria o anterior museu e também os seus anteriores anexos demolidos e projectos de ampliação, há que prever desde o início o futuro crescimento do MAP no espaço adjacente que lhe esteve e está ainda associado.

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Andreia Galvão nomeada directora do MAP

O jornal Público anunciou no passado dia 21 de Dezembro a nomeação de Andreia Galvão para a direcção do MAP:
Andreia Galvão é a nova directora do Museu de Arte Popular (MAP), em Lisboa, e já apresentou à tutela uma proposta de actuação estratégica para a reabertura deste museu no final de 2010. A ex-subdirectora do Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (Igespar), onde esteve cerca de quatro anos, foi indigitada a 1 de Dezembro e quer fazer do MAP um "museu do século XXI".

Professora na Universidade Lusíada, a arquitecta Andreia Galvão fez a sua tese de doutoramento sobre o trabalho de Jorge Segurado, o arquitecto que, na década de 1940, dirigiu a adaptação do pavilhão Vida Popular (realizado para a Exposição do Mundo Português) para Museu do Povo Português, mais tarde chamado Museu de Arte Popular.

Este convite vem na sequência dessa sua investigação. Antes de ter estado com Elísio Summavielle, actual secretário de Estado da Cultura, no Igespar (do qual ele era director), Andreia Galvão trabalhou no Instituto dos Museus com Simonetta Luz Afonso, sua irmã, e mais tarde com a historiadora Raquel Henriques da Silva.

"Estamos a montar a equipa e já apresentei à tutela uma proposta de actuação estratégica para a reabertura do Museu de Arte Popular no final de 2010", disse Andreia Galvão ao PÚBLICO. O MAP irá assumir-se como um "museu-documento, mas passível de ter um papel incentivador para a investigação nas diversas áreas disciplinares que o atravessam", explicou a directora, que também quer que este museu se assuma "como uma ponte entre o passado e o futuro através da contemporaneidade".

O Museu de Arte Popular vai apoiar a inovação e a criatividade e servir de ponto de partida para a criação contemporânea inspirada na tradição. Andreia Galvão quer ainda que este espaço museológico se constitua como "uma embaixada do país em Lisboa onde as autarquias e as comunidades possam mostrar o melhor que se faz nos seus territórios."

Esta indigitação acontece sete meses depois de o Conselho de Ministros ter aprovado a proposta de instalar no edifício do MAP o futuro Museu da Língua Portuguesa. No entanto, no início deste mês a ministra da Cultura, Gabriela Canavilhas, revogou esse projecto, considerando que aquele espaço foi concebido para contar a história da nossa arte popular.

Isabel Coutinho, Público, 21 de Dezembro de 2009. Ver artigo no site do Público.

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Hoje celebramos



Ministra da cultura anuncia que o Museu de Arte Popular vai reabrir em 2010.
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Da Arte Popular às culturas populares híbridas

A comunicação apresentada por João Leal no colóquio de Junho, que foi publicada no Le Monde Diplomatique de Julho está agora disponível online em versão integral e pode ser descarregada no blog RESDOMUS em formato pdf.
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Ippar actualiza ficha de inventário do Museu de Arte Popular

O IPPAR/ IGESPAR acaba de actualizar e ampliar a Ficha relativa ao edifício do Museu de Arte Popular que faz parte do seu Inventário do Património – já na sequência da reabertura do respectivo Processo de Classificação.

Ver texto e respectivas notas no blog de Alexandre Pomar.


O Pavilhão Náutico - depois Espelho de Água - em primeiro plano, depois o conjunto de Pavilhões da Vida Popular, com a torre de filigrana; do outro lado da linha, as Aldeias Portuguesas. Foto de Eduardo Portugal, 1940. Arquivo Fotográfico da CML
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Poder, Património e Memória

Quando iniciei o meu estudo sobre o Museu de Arte Popular [MAP], no âmbito do mestrado em museologia que realizei na Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, sob o título “Museu de Arte Popular: Memórias de Poder”, em 2006, o Museu tinha visto abater sobre si uma decisão de encerramento pela então Ministra da Cultura Isabel Pires de Lima, assumida no Jornal de Notícias de 31 de Outubro de 2006, como “uma opção da Política Cultural do Ministério”, de acordo com as palavras da própria. Assinalando o culminar de uma tendência de afastamento e desestruturação funcional por parte das sucessivas tutelas, promovida nos 30 anos anteriores, centrei parte desse projecto de investigação na dialéctica que caracterizou a essência do Museu ao longo das suas quase seis décadas de vida e que, em última análise, se manifestara mais uma vez na decisão assumida: A relação entre Poder, Património e Memória nos espaços museológicos, e neste caso concreto no Museu de Arte Popular.

Perspectivar um entendimento sobre o relacionamento estabelecido entre o MAP e o poder político, desde o momento da sua abertura, em 1948, e 2006, remete-nos para a existência de dois períodos distintos em termos de dinâmica e aceitação.
O primeiro período entre 1948 e 1974 assinala os anos de referência do Museu no panorama museológico nacional. Fundado por António Ferro como sendo uma síntese da arte moderna portuguesa, cuja linha orientadora oficial houvera sido veiculada pelo Secretariado de Propaganda Nacional [SPN] desde 1933, para além do número elevado de visitantes que registava – inserindo-se no roteiro turístico da cidade de Lisboa –, surge associado a alguns dos principais eventos propagandísticos de exaltação do Estado Novo e do seu discurso oficial: Comemorações do V Centenário da Morte do Infante D.Henrique; Comemorações do 40º Aniversário da Revolução Nacional; Exposições Nacionais de Arte Moderna; Mostras de Arte Popular de países estrangeiros.

A proximidade e reprodução do sentido político e cultural do Estado Novo eram evidentes nesse período, pela dependência do Museu do SPN-SNI (Secretariado Nacional da Informação) a partir de 1945 até 1969 –, assumindo em 1962 a Conservadora do Museu Maria Madalena Cagigal e Silva, no âmbito da 3ª reunião dos Conservadores dos Museu, Palácios e Monumentos Nacionais, que “(...) os museus de arte popular têm funções de preservação e recolha de obras folclóricas, têm missão cultural, científica e artística, e de propaganda”

O período seguinte, iniciado com a democracia em 1974, marca uma inversão na visibilidade e tendência registadas até então, preenchendo três décadas com sucessivos episódios de hostilização e turbulência institucional.

Encerrado entre 1974 e 1980 devido à não nomeação de um director, depois da aposentadoria de Manuel de Mello Corrêa, e de um arrastado período de obras no edifício, após a reabertura em 1980, o MAP viu-se privado do seu espaço de exposições temporárias, inaugurado em 1966, ficando reduzido à sua exposição permanente até 1995, altura em que foi novamente criado no Museu um espaço para o efeito.

No período que medeia entre essas duas datas, foram extintos os serviços educativos surgidos no ano de 1984, e por indicação do director do antigo Instituto Português do Património Cultural, António Garcia Lamas, foi dada ordem de encerramento do Museu em 1989 e subsequente transferência do acervo para o Museu Nacional de Etnologia [MNE]. A substituição da então Secretária de Estado da Cultura Maria Teresa Pinto Gouveia, no inicio de 1990, com o afastamento de António Garcia Lamas, travaram o processo de desmantelamento do Museu, preservando o mesmo a sua disposição original e acervo mas perdendo o seu carácter autónomo, ficando na dependência do MNE como Centro Regional de Artes Tradicionais.

Em 1997 o MAP surgiu novamente enquanto tal, quebrando a ligação com o MNE. Contudo, vários anos de suborçamentação e negligência por parte desse último, somados a muitos outros por parte das tutelas e à frágil construção herdada da Exposição do Mundo Português, contribuíram para uma situação de acentuada degradação do espaço, acervo e serviços. Quando as obras de requalificação avançaram em 1999, ao abrigo do Quadro Comunitário de Apoio para Portugal, já o MAP perdera clara preponderância no panorama museológico nacional e da cidade de Lisboa, sendo das instituições que registava um dos mais baixos números de visitantes.

A decisão de encerramento em 2006, e apesar da requalificação em curso, enquadrou não mais do que um desfecho expectável na lógica de desinteresse reproduzida pelo poder político, durante as três décadas anteriores.
Situar essa decisão implica enquadrar as profundas transformações culturais e políticas ocorridas na sociedade portuguesa entre 1948 e 2006. As diferentes relações produzidas entre o entendimento político, a sociedade e os mecanismos de afirmação do discurso dominante.

Se entre 1948 e 1974 a exaltação da ruralidade configurava a promoção de uma conduta cívica concreta – que se pretendia instituída –, caracterizada pela simplicidade, desprendimento em relação à orientação governativa do país, pautada pela vivência humilde num contexto de privação mas realizada nas tradições e manifestações culturais, depois de 1974 o sentido pretendido representava um entendimento totalmente diferente. Procurando estimular a participação dos cidadãos na definição da orientação política do país e mobilizar a população para projectos de desenvolvimento social e humano – valores reforçados com a inclusão de Portugal na Comunidade Económica Europeia em 1986.

Nesse conflito valorativo residiu grande parte do entendimento determinado pelo Poder político do pós-25 de Abril em relação ao MAP e à mensagem nele entrevista, marcando os pressupostos relacionais e enquadrando o processo de alteração do regime político e social em marcha. A ressignificação de novas palavras, entendimentos e percepções culturais numa lógica de ruptura, determinaram uma projecção simbólica hostilizante por parte dos mecanismos e canais de poder em relação ao MAP, cristalizando-o na sua matriz fundadora e inviabilizando qualquer dissociação do projecto cultural do Estado Novo.

Sem possibilidades de renovação, o Museu adquiriu um sentido anacrónico e de imobilismo, conotado de uma forma surda com um passado do qual nunca se conseguiu libertar em muitos sectores da cultura nacional, sendo notório a clara ausência de referências – comparativamente com o período anterior – na vida pública e cultural nacionais.

Produto de uma época determinada, o MAP consubstanciou de uma forma provavelmente única em Portugal as pulsões que habitam os museus, relacionadas com a apropriação política – no sentido ideológico – do património e os mecanismos associados à enfatização ou supressão de discursos dominantes.

Se é certo que resultou de uma leitura própria e ideologicamente condicionada relativamente ao entendimento de cultura e arte popular, o mesmo fenómeno foi reproduzido noutros moldes e por outros meios nos anos imediatamente a seguir ao 25 de Abril, em que o contexto revolucionário e a hegemonia dos movimentos de esquerda conferiram uma outra leitura à cultura popular, enquadrando-a e redefinindo-a de acordo com as suas tendências ideológicas.

Invocar “Política Cultural do Ministério”, sem que tivesse existido uma sustentação fundamentada e resultante, efectivamente, de um projecto cultural estruturado e coerente – as motivações revelaram-se sempre decorrentes do entendimento pessoal da então Ministra da Cultura em relação ao Museu -, em nada resulta diferente do sentido político fundador expresso por António Ferro no dia da sua inauguração: “Este museu que tenho hoje a alegria de inaugurar, (...) é a exemplificação viva, indiscutível de tudo quanto tenho desejado provar com a minha acção, com as minhas palavras”.

A diferença reside na intencionalidade associada: sendo que em 1948 se pretendia fixar e exaltar uma política e uma forma particular de ver o mundo, em 2006 pretendeu-se impor um sentido de esquecimento a qualquer conotação ou possibilidade evocativa de uma memória, mesmo quando não existiam perigos inerentes e quando as pessoas se reviam essencialmente nas manifestações artísticas presentes no museu, representativas de um mundo praticamente desaparecido mas estruturante da cultura nacional.

A decisão de encerramento do museu traduz uma forma particular de lidar com a história recente de Portugal por alguns sectores do Poder político dominante e da sociedade portuguesa, impondo o seu discurso e leitura de uma forma assíncrona, assente nos símbolos que valida e que revê nesse entendimento, privando o país de fontes e manifestações que permitam um diálogo, nesse âmbito, aberto e passível de validação.

Luís Raposo Pereira

Luís Filipe Raposo Pereira é autor de Museu de Arte Popular: Memórias de Poder, dissertação apresentada no Curso de Mestrado em Museologia da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, Lisboa, 2008
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Da Arte Popular às culturas populares híbridas

A comunicação apresentada por João Leal no colóquio realizado no passado dia 20 de Julho foi publicado no Le Monde Diplomatique deste mês.

1. Gostaria de apresentar dois argumentos principais em defesa do Museu de Arte Popular (MAP), que o presente governo, mal avisado, decidiu encerrar. O primeiro diz que, num quadro – como o que caracteriza a contemporaneidade – em que tudo se tornou susceptível de patrimonialização, faz todo o sentido encarar o MAP como um património que deve ser defendido ou, para ser mais específico, como um museu que deve ser musealizado. O segundo argumento diz que, num quadro – como o que caracteriza a contemporaneidade – em que as culturas populares têm vindo a ser reformatadas a partir de ideias como a hibridez e a criatividade, faz todo o sentido dinamizar o MAP, fazendo dele uma plataforma de diálogo com essas novas formas da cultura popular. O primeiro argumento extrapola para o caso do MAP ideias sobre o património defendidas por historiadores como Pierre Nora e David Lowenthal. O segundo tira consequências de debates sobre as culturas populares pós-modernas protagonizados por antropólogos como Nestor Garcia Canclini ou David Guss. (...)

Ler o artigo na íntegra no Le Monde Diplomatique de Julho.

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Processo de classificação do edifício do Museu de Arte Popular deverá ser reaberto



Link para o artigo completo no site do jornal Público.
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Boas notícias

Um parecer que propõe a reabertura do processo de classificação do edifício do Museu de Arte Popular foi aprovado por unanimidade pelo Conselho Consultivo do IGESPAR no dia 15 de Julho de 2009 - exactamente um mês depois da entrega formal neste Instituro de um pedido nesse sentido e também, por mera coincidência, no dia do 61º aniversário da inauguração do MAP. O documento emanado do CC tem especialmente em conta o facto de o edifício ser o único que resta da Exposição do Mundo Português e refere "que o mesmo deve ser salvaguardado, e legalmente protegido, nas suas componentes construtivas e de património artístico aí integrado". Por o imóvel se situar em "zona monumental" ele já era objecto de protecção legal, mas - acrescenta o parecer - "propõe-se agora a atribuição de uma classificação enquanto objecto individual".
É uma decisão que vem, sem dúvida, ao encontro das posições de quem pretendeu defender o edifício e o Museu de Arte Popular que aí foi instalado em 1948, quando se introduziram importantes alterações arquitectónicas no anterior Pavilhão da Vida Popular da Exposição do Mundo Português, de 1940, e se dotou o imóvel de um conjunto muito significativo de obras de arte - pinturas murais e baixos-relevos - adaptados a essa sua nova função.

Por outro lado, a reunião anunciada à imprensa pelo Ministro da Cultura no passado dia 17 de Junho com os animadores da luta em defesa do MAP teve lugar esta manhã (estiveram presentes - para além do Ministro e do seu Chefe de Gabinete - Catarina Portas, Joana Vasconcelos, Rosa Pomar, Raquel Henriques da Silva e Alexandre Pomar). Durante a reunião, foi abordada a reabertura pelo IGESPAR do processo de classificação do imóvel do Museu de Arte Popular e as suas imediatas ou eventuais consequências, tendo-se o Ministro declarado aberto a discutir o futuro do edifício e do Museu, mediante formas de auscultação da opinião pública e de ponderação de pareceres especializados que fundamentem as decisões a tomar.
Foram postas em evidência as omissões e os lapsos que existem na própria informação institucional até agora disponível sobre o património decorativo de que o edifício do Museu foi dotado (da autoria dos pintores-decoradores Tomaz de Mello, Carlos Botelho, Paulo Ferreira, Eduardo Anahory, Estrela Faria e Manuel Lapa e do escultor Júlio de Sousa), o qual não se encontra publicado nem devidamente estudado no âmbito da história de arte. Nesse sentido, e também em matéria de apreciação do design do mobiliário expostivo do Museu e, em especial, nas áreas da museologia e da antropologia, foi definido o compromisso de contribuir com informação e pareceres especializados no sentido de aprofundar o debate e fundamentar a defesa da preservação e renovação do antigo MAP, estimulando assim o alargamento da discussão pública do assunto. Por sugestão do Ministro da Cultura, o "site" oficial do Ministério poderá vir a acolher, sob formas a decidir, a documentação já reunida e ainda a produzir sobre os temas do edifício e do Museu, procurando-se explorar as virtualidades das novas tecnologias da informação para estabelecer redes de debate e de auscultação e troca de opiniões.
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Joaquim Pais de Brito: "Está tudo preparado para voltar a casa"



Excertos do artigo de Ana Machado no Público de hoje (ver artigo completo):
(...)

Noutra ala das reservas do Museu de Etnologia estão os têxteis. "Eram a parte do espólio mais bem tratada e catalogada." São dezenas de pequenas gavetinhas metálicas com paninhos alvos bordados, envoltos em papel de seda. E armários, que se estendem por todo o comprimento da sala, fechados, que escondem trajes tradicionais, roupas de cama e casa e peças de maior porte.

"Fiz questão que fossem todas marcadas. Está tudo preparado para voltar a casa. Ou para servir o fim que o ministro indicar", diz o director [Joaquim Pais de Brito].

"Ainda falta arrumar a colecção de ex-votos e objectos ligados à vida religiosa", lembra Pais de Brito. "Hoje sabe-se mais sobre o Museu de Arte Popular do que alguma vez se soube."

(...)

Raquel Henriques da Silva, historiadora de arte e ex-directora do Instituto Português de Museus (actual Instituto dos Museus e da Conservação), um dos nomes mais destacados da luta em defesa do Museu de Arte Popular, frisa a importância do espólio da instituição: "Tem colecções muito importantes e reflecte a visão da cultura popular. E temos uma nova geração interessada nesta área da cultura quer em termos de trabalho quer em termos expositivos", defende a especialista, para quem só no espaço para que foi criado, junto ao Tejo, o Museu de Arte Popular faz sentido. A investigadora é uma das mentoras da petição que defende a classificação do edifício e a manutenção do espólio no lugar de origem, já entregue ao ministro da Cultura.

"Estamos perante uma obra que funciona como um todo. A nível de construção e desenho encerra um tipo de arquitectura praticada pelo Estado Novo. Constitui um documento único para a investigação contemporânea sobre a política do Estado Novo", diz ainda Maria Barthez. A investigadora lembra que nem na ditadura este museu foi amado.

"O museu já era mal-amado no Estado Novo. Nos anos 50 já tinham de fazer obras e já não havia dinheiro nessa altura. Foi sempre um museu inacabado. E mesmo assim era o museu mais visitado na década de 1960 a seguir ao dos coches." Nos últimos anos de existência, antes de fechar as portas, o museu recebia anualmente cerca de 32 mil visitas.

Maria Barthez alerta para o futuro da arte popular: "As pessoas não conhecem o que é a arte popular e o que se está a perder com o fim dos artesãos. Somo um país pequeno, com tanta identidade e variedade. Devíamos estimar mais isso."

Mas para Pais de Brito a relação com o Estado Novo é a principal razão pela qual o debate em torno do encerramento do Museu de Arte Popular não colhe mais apoio. Apesar de frisar que os problemas que afectavam a instituição eram muitos. "Acho pouco consistente esta forma súbita de querer pôr trancas à porta quando a porta já foi arrombada há tanto tempo. O problema do Museu de Arte Popular não é de agora. Mas parece que todos estavam satisfeitos." E questionado sobre se seria possível reinventar hoje o Museu de Arte Popular, Pais de Brito responde: "Não me posso pronunciar, já que esse debate não foi aberto."

Alguns dos trabalhos de restauro do espólio do Museu de Arte Popular podem ser acompanhados no blog do Museu Nacional de Etnologia.
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O mobiliário do Museu de Arte Popular

Quanto ao Mobiliário Expositivo, a sua autoria é, na sua maior parte, de Jorge Segurado e Tomás de Mello (Tom). Inspirado nas nossas proveniências regionais, nele está patente uma arte portuguesa, simultaneamente moderna e tradicionalista. Neste contexto, encontra semelhanças com o mobiliário utilizado à época, nas pousadas criadas por Ferro, esse “mobiliário rústico português” de linhas sóbrias e simples (madeira de pinho, encerado de escuro, castanho do Minho de 1ª qualidade, pontuado por aplicações de ferro forjado).

Na sua concepção e criação, houve a preocupação de se estabelecer um elo de ligação entre as diferentes estruturas presentes e elementos de suporte, o que dá essa imagem coerente de conjunto e unidade, propositadamente bem conseguida. Para tal, os seus designers recorrem ao uso de elementos fixos e decorativos como a malheta (muito comum à época), entalhes rústicos de ferro forjado (presente em determinado tipo de mobiliário). Quanto aos materiais utilizados, foram escolhidos para a sua concepção materiais nacionais – madeira castanho, pinho, também folheado a castanho, complementados por vidros (de 1ª qualidade), que fornecem uma completa visibilidade dos objectos expostos no interior das vitrinas.

Destacam-se entre o mobiliário expositivo: vitrinas murais, vitrinas centrais, vitrinas estantes, estantes, cavalete, de sela, entre outros.

O material concebido em exclusivo para o Museu representa a existência de um conjunto único do mobiliário expositivo museológico português.

Excerto da comunicação apresentada por Maria Barthez - "O Culminar da Política do Espírito, de António Ferro" - no Symposium on Portuguese Traditions (Europe, America, Africa, Asia) April 18-19 2009 University of California, Los Angeles







Imagens do Arquivo Fotográfico da Câmara Municipal de Lisboa
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MAP em destaque no Sol desta semana


Artigo de José Cabrita Saraiva (pp. 42-43).


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A Arquitectura do Museu de Arte Popular - significado histórico

Texto do arquitecto José Manuel Fernandes publicado com o título "Olhar para o Lado" em 4-11-2006, no Expresso.


Pavilhão da Vida Popular. Fotografia de Mário Novais, 1940.
O “restante” Museu de Arte Popular / MAP, com o seu edificio de característica fachada classicizante e simétrica, nasceu com e para a famosa Exposição do Mundo Português de 1940, sendo então parte integrante de um vasto conjunto pavilhonar. Não se adivinhava na época, para aquelas construções “efémeras” com estrutura de metal e armações de madeira e gesso, uma vida tão longa como são mais de seis décadas...

Se consultarmos o “Programa Oficial / Comemorações Centenárias / 1940”, lá vem identificada, na planta geral da exposição, a mole inconfundível do edifício cujo encerramento agora causa polémica, situado a poente do actual ( e também sobrevivente) “Espelho de Água”, como um dos núcleos do chamado “Centro Regional” - tendo as “Aldeias Portuguesas” do seu lado norte, com a linha férrea e a Avenida da India a separá-las, mas ligadas ambas por uma ponte pedonal (como agora se pretende construir, para ligar a mesma área ao CCB, que entretanto se substituiu às ditas aldeias...).

O grandioso edifício constituía-se como uma das “secções” da mostra (como então se designavam): era a “Secção da Vida Popular”, que se exibia como um repositório de materiais e práticas etnográficas desta mesma “vida” – e que foi naturalmente transformado depois do encerramento do certame em Museu de Arte Popular...claro que sempre na visão folclorista que o Estado Novo detinha sobre a dita.

Se folhearmos o esplêndido catálogo “Mário Novais / Exposição do Mundo Português 1940” (Fundação Calouste Gulbenkian. 1998), podemos apreciar a imagem do edifício que o valoroso fotógrafo registou: é a foto 4, identificada como sendo do “Pavilhão das Artes e Indústrias e Espelho de Água / Secção da Vida Popular”. Trata-se de uma fotografia nocturna, em que a iluminação rasante valoriza as texturas e decorações da fachada pavilhonar, exibindo claros motivos vernáculos, como a telha, as peças cerâmicas, etc.

Diz-nos Rui Santos que a obra foi da autoria do arquitecto Jorge Segurado (que também deve ter projectado as “Aldeias Portuguesas” do outro lado da linha), e contou, como em muitos outros pavilhões, com a participação de diversos artistas plásticos, neste caso Tomás de Melo (Tom), Estrela Faria, Manuel Lapa, Eduardo Anahory, Carlos Botelho e Paulo Ferreira: afinal, dos mais notáveis pintores, ilustradores, decoradores, designers do seu tempo. E Jorge Segurado, se aqui executou uma construção de sentido complementar (se compararmos com os mais majestosos pavilhões da Praça do Império, por Cottinelli Telmo e Cristino da Silva), é o autor do mais importante e ímpar edifício do modernismo português, a fortíssima e aparentemente duradoura Casa da Moeda, ao Arco do Cego, em Lisboa...

Ainda recordo aquele espaço, nas minhas visitas de estudo escolares, em que participei no tempo da Instrução Primária, algures por 1959-60 – e nessa época o Museu impressionava, com o seu cheiro às mais diversas matérias orgânicas, vegetais (já algo mofentas), e com os manequins, trajados a rigor, convivendo com os mil objectos de um mundo rural ou aldeão que ignorávamos... Apesar de tudo, como museu informativo e visão coerente de pedagogia, era uma utilidade que ainda se recomendava.

Depois, nas décadas de 1970-90, foi o acentuar da decadência, com a respectiva falta de investimento, associada a (e provocada) por uma espécie de “olhar para o outro lado” que o pensar no tempo histórico do Estado Novo desencadeou (e ainda desencadeia, pelos vistos) em muitos dos nossos concidadãos, e que tem como consequência a depredação ou desaparecimento fatal de muitos documentos com valor histórico. É que, quer se queira quer não, o período salazarista correspondeu a cerca de metade do atribulado século XX português – e por isso, para alguma coisa há-de servir estudá-lo e conhecê-lo, sem complexos esquerdistas mas também sem preconceitos e ênfases direitistas – apenas como ele já é, para a maioria jovem da nossa comunidade – um tempo antigo, dos avós, que provoca alguma curiosidade pela sua aventurosa sequência de factos...

Há alguns anos, foi necessário, aparentemente in extremis, envolver o edifício do museu por uma estrutura de suporte de uma cobertura provisória, e o seu encerramento foi inevitável, aguardando por melhores dias. Não é compreensível, à luz do nosso contexto cultural de hoje, nem que se “deite fora”, ou reinstale algures o espólio deste objecto construído, nem que se faça outra coisa em lugar do que lá está. As razões para isso, já do conhecimento público na sua maioria, são essencialmente estas:

1 – o significado histórico do edifício, no contexto do lugar (é indissociável do “Espelho de Água”, do monumento aos Descobrimentos, das esplanadas envolventes) e da sua função (o olhar classificador e paternalista do Estado Novo, colocando a Cultura e Arte Populares “a seguir” à História e à Arte Erudita, na hierarquia da Expo 1940);

2 – a importância arquitectónica do edifício, que é hoje um “facto singular” e quase isolado no quadro das edificações sobreviventes, intactas ou quase, da Expo 1940 – raridade na sua solução construtiva, utilizando ferro, madeira e gesso, raridade na sua dimensão estética, porcurando conjugar o desenho modernista e geométrico com a forma mais clássica, representativa e neo-historicista – muito “à maneira” de 1940;

Esperemos que o bom senso prevaleça, gerando um futuro MAP competentemente recuperado e de nova aberto ao público!

José Manuel Fernandes arq
30/10/2006


Núcleo das Aldeias Portuguesas e Pavilhão da Vida Popular. Fotografia de Mário Novais, 1940.
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Depois do colóquio

No Colóquio sobre o Museu de Arte Popular que ocorreu no último Sábado, dia 21 de Junho, debateram-se várias ideias sobre o futuro do MAP. Essas ideias não nasceram de uma inspiração repentina; foram amadurecidas a partir de investigações sobre o museu e a política cultural do SNI e nascem de um olhar aprofundado sobre a história da arte em Portugal, por um lado, e de uma análise antropológica sobre os diálogos entre o popular e o erudito por outro.

Como explicou Alexandre Pomar, reabrir o museu não é devolvê-lo à morte lenta em que se encontrava. Uma das ideias que está em cima da mesa – a entrecruzar com vias de revitalização paralelas -- é usar o que foi feito na época para pensar os modos de apropriação da cultura popular por parte do SNI e confrontar os visitantes do Museu com esse contexto. Qualquer colecção, criada hoje ou há um século, nasce de um ponto de vista. O Museu de Arte Popular -- porque nele a colecção e o edifício foram pensados em conjunto -- oferece-se como estrutura museológica única para pensar as modalidades de selecção e reinvenção da cultura popular na primeira metade do século XX em Portugal. E, a partir desse quadro, reflectir sobre as aproximações intelectuais e políticas à arte popular desde finais do século XIX até à actualidade, aspecto que poderia ser explorado através de exposições temporárias regulares.

No que diz respeito à política folclorista promovida por Ferro, deve acentuar-se que a colaboração dos artistas modernos nas acções de carácter etnográfico do SNI, de que o MAP é testemunho, não é arbitrária. Ao contrário do que normalmente se pensa, a aposta do SNI na arte popular não pretende apenas testemunhar uma identidade assente em costumes remotos e imemoriais. O que interessa a António Ferro é a afirmação de Portugal no tempo presente; a arte popular, remetendo para a vivência contemporânea das tradições, teria essa vantagem em relação ao culto das glórias do passado: falaria de uma nação plena de vitalidade que não vivia apenas da grandeza pretérita. No contexto da intervenção do SNI, a etnografia aparece, pois, como alternativa à celebração da história.

Ao colocar o arranjo expositivo do Museu de Arte Popular e, anteriormente, do Centro Regional da Exposição do Mundo Português, nas mãos da equipa de pintores decoradores do SNI, António Ferro impedia precisamente que a arte popular fosse um mero sucedâneo do culto das antiguidades históricas. Neste sentido a reunião dos objectos de arte popular que fazem a colecção do Museu e o edifício em que os mesmos foram expostos são o reflexo de duas dimensões, profundamente interligadas de uma mesma política. Separá-los, relegando os objectos exibidos no MAP para outro espaço, prejudicaria profundamente a capacidade de compreensão da lógica que esteve subjacente à criação daquela colecção.

Vera Marques Alves, Antropóloga


Vista do Centro Regional (Exposição do Mundo Português de 1940, Pavilhão da Vida Popular). Clicar para ampliar.





Fotografias de Cláudia Varejão
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Sebastião Rodrigues

Feira da Primavera 1972

Cartaz de Sebastião Rodrigues para o Mercado da Primavera (realizado anualmente no Museu de Arte Popular). 1972.
Imagem retirada de Sebastião Rodrigues, designer (FCG, 1996).
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Depoimento de Marta Mestre

1. NA MODERNIDADE ENTROU-SE POR VÁRIAS PORTAS

“Entre Belém e o Chiado”, a recorrente frase da História da Arte em Portugal para o ano de 1940, encontra uma renovada expressão no presente debate sobre o futuro do MAP (a sua defesa é dado assente). Neste ano, se em Belém nascia o Pavilhão da Vida Popular (que daria origem ao MAP) no interior do aparato propagandístico do Estado Novo, por seu turno, no Chiado, António Pedro, António Dacosta e Pamela Boden expunham trabalhos surrealistas, influenciados pelo manifesto de André Breton.

A topologia distinta, entre Belém e o Chiado, configura duas estéticas, éticas (e politicas) da mesma modernidade: o interesse pelas artes populares por um lado, e o inconsciente por outro (e os seus correlativos campos do sonho, da desrazão, da actividade artística dos marginais, loucos, crianças e homem comum). Outros campos, como por exemplo, o interesse pela arte primitiva foram igualmente aspectos da mesma construção do moderno, aquilo a que Karl Krauss chamou os “grandes tempos”.

É neste sentido que as artes populares configuram um território vasto, plural e multiforme, que só parcialmente poderá equivaler à construção da cultura popular portuguesa que fizeram a Etnografia por um lado, e as campanhas de António Ferro por outro.

Carece de investigação concertada, mas vindo o MAP a assumir-se, entre outras vertentes, enquanto centro de pesquisa, linhas de estudo como 1) a apropriação de objectos indígenas pelos surrealistas; 2) os desenhos humoristas (de Emmerico Nunes a João Abel Manta); 3) os cadernos de viagem de etnógrafos (agradece-se a Vítor Silva que me chamou a atenção para os desenhos de Fernando Galhano); 4) as exposições de arte negra (como a que organiza Ernesto de Sousa com a colaboração de Diogo de Macedo, na Escola Superior Colonial em 1946, na qual se apresenta estatuária do Benim, Amadeo e Almada, e reproduções (!) de Matisse e Picasso); 5) a obra “autoral” de Franklim, Rosa Ramalho, Mistério, e a história do seu “achamento”; 6) Jaime Fernandes e os “outsiders” contemporâneos; 7) a política da “arte ingénua” de Ernesto de Sousa; 8) a estética “do-it-yourself art” (DIY), etc. permitirão perspectivar criticamente um “campo expandido” do popular.

2. JOSÉ DOS SANTOS (1904-1996)



“Os Portugueses são os maiores escultores do mundo e eu sou o maior escultor de Portugal”, definia assim José dos Santos (1904-1996) as suas qualidades e a supremacia dos escultores portugueses, ele, que andou sete dias à escola e não consta ter saído da aldeia de Arega, perto de Leiria. A notícia deste artista “outsider” e do seu espólio de 250 obras que se encontra em Sydney, chega-nos em boa hora através do Professor Colin Rhodes, (autor da principal bibliografia sobre arte “outsider” e investigador em primitivismo e modernismo). Rhodes situa o trabalho de José dos Santos “undoubtedly (...) in the first rank of self-taught and outsider sculptors” (a fortuna crítica deste artista está, alias, disponível somente em inglês). Actualmente, o trabalho idiossincrático de José dos Santos pode ser visto na exposição “The Greatest Sculptor in the World, José dos Santos: Artist, Visionary, Outsider”, promovida pela Universidade de Sidney - Self-Taught and Outsider Art Research Collection (SCA), onde tem estado conservado em permanência, desde que saiu de Portugal.

O caso de Jaime Fernandes é semelhante. Posteriormente à exposição realizada em 1980 na Fundação Calouste Gulbenkian (de que existe um pequeno catálogo com textos do psicanalista João dos Santos, e de Fernando de Azevedo) e do esplendoroso “Jaime” de António Reis (1974), é preciso ir a Lausanne para ver “jaimes”, na abcd collection.

Em ambos os casos, a confirmação da artisticidade faz-se no exterior do país e das suas instancias de legitimação individuais ou colectivas, possibilitando que estas imagens integrem regimes estéticos que pouco ou nada terão a ver com o genuíno português. Ainda bem.
A invisibilidade destes artistas testemunha “a tremenda dificuldade que temos em misturar culturas que nos habituamos a ver separadas”, aspecto que explicitei no artigo “We are strangers to ourselves”.

Como foi referido no debate de dia 20 pelo Arq. Nuno Portas e pela Professora Raquel H. da Silva, a época actual (tal como o modernismo) presta-se a hibridismos. Neste caso, avance-se e “infecte-se” de novo.



3. UM MUSEU QUE INTEGRE A CONFLITUALIDADE DO SEU OBJECTO

A mobilização que o movimento de cidadãos em defesa do MAP tem gerado é crescente e articula diversos grupos (académicos, simpatizantes, curiosos, profissionais, estudantes, etc). A principal medida deste movimento, ou seja, a interrupção da vontade do Ministro em construir o Museu Mar da Língua no lugar do MAP poderá (esta é uma das nossas propostas) articular-se com propostas museológicas/ culturais para o seu destino (desde o “museu critico” do Arq. Nuno Portas, ao “meta-museu” proposto pelo Professor João Leal). Nesta hora, pense-se o futuro do MAP, como forma de salvaguarda do presente. Uma das formas desta acção passa pela constituição de um “grupo prévio instalador” que trabalhe em propostas reais (neste caso poderíamos estar em face de um futuro caso de sucesso da museologia e da politica cultural portuguesa). A vantagem mais directa desta acção será a interpelação de um maior número de apoiantes (principalmente as gerações mais novas, recém-formadas) face a conteúdos programáticos que prevêem um horizonte de execução. Outra medida essencial passa por alargar a discussão a “outros que sabem sobre” fora de Portugal, nomeadamente, profissionais de projectos museológicos congéneres desde a Finlândia aos EUA (American Folk Art Museum, Union of Rural Education and Culture), projectos editoriais, fundos comunitários europeus de financiamento (Equal Rights to Creativity - Contemporary Folk Art in Europe), investigadores, etc.

Contrariamente àquilo que foi a sua história, o futuro do MAP não é apenas matéria de antropólogos e etnógrafos. A hibridez do conceito “arte popular” mobiliza muitas outras disciplinas (desde a história da arte ao design, desde a música à estética) para além de ser assunto de não-profissionais. O MAP será um projecto sucedido se integrar a conflitualidade do seu objecto (presente à nascença, na oposição estética versus etnográfica entre A. Ferro e a equipa de etnógrafos liderada por Francisco Lage, conteúdos da investigação da Antropóloga Vera Marques Alves). É precisamente o actual debate sobre o futuro do MAP que pode veicular o percurso interrogativo do seu objecto

Marta Mestre, Historiadora de Arte / curadora
Doutoranda em cultura contemporânea - FCSH (Lisboa) / EHESS (Paris)

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Depoimento de Pedro Félix

Não vou entrar em questões estéticas ou ideológicas em torno do "Museu de Arte Popular". Quero partir de uma questão simples e concreta: O que é o "património"?

Por definição, património é algo que se transmite, que é passado, herdado, um bem que é transferido. A cultura, seja cultivada ou não; erudita, tradicional ou popular; é alvo de transmissão.

No entanto, pela sua eficácia simbólica, o Património é uma arma ideológica e política (no seu sentido mais corrente ao sentido mais filosófico). É pelo património que construímos a nossa identidade. Não é pelo património que a percebemos, ou que a representamos. Erro. É pelo património que construimos activamente o que somos pela forma como vemos que fomos.

A questão tão polémica do Museu de Arte Popular prende-se com o facto de muito pouca gente ter percebido do que falava quando falava daquela estrutura museológica. Uns argumentam que a sua defesa é demonstração de nostalgia salazarista, outros falam da "alma do povo"... nada disto me interessa. Nem creio que nos deva interessar. O que acho ser relevante é que durante a vigência do Estado Novo, em particular numa sua primeira forma, se procurou veicular uma "Política do Espírito", uma política operada pela instituição de prémios, de museus, de exposições, de turismo cultural.

A eficácia dessa "política do espírito" está mais do que comprovada. Quem não sabe que Monsanto é a aldeia mais portuguesa de Portugal (concurso que permitiu reunir o grosso do espólio que constitui o Museu de Arte Popular)...? quem não conhece o Galo de Barcelos? Saber se isto é ou não "Portugal", é um debate que deixo aos estetas e aos ideólogos. Uma coisa sei, não há qualquer relação linear que associe univoca e exclusivamente o folklore ao Estado Novo! Se o Museu de Arte Popular integrava o complexo da Exposição do Mundo Português, também acolheu depois do 25 de Abril a "Feira do Povo" e a pintura do mural colectivo dos artistas plásticos em celebração da revolução.... de facto, podiam ter ido pintar para outro lado, mas não, foram para ali... alguma razão terão tido...

A urgência de intervenção exige clareza do argumento e rapidez na sua exposição: Destruir a peça museológica e patrimonial que é o Museu de Arte Popular (entenda-se, edifício, frescos, grupos escultóricos, peças expostas, equipamento expositivo, o próprio programa e estrutura da exposição), é destruir a mais bem conservada e interessante peça dessa "Política do Espírito"; é destruir uma ferramenta para estudar o design, a política estética, a museológia histórica... Desmantelar a colecção reintegrando no Museu de Etnologia é uma violência conceptual que re-semantiza peças. Nunca mais conseguiremos perceber totalmente uma canga de bois com "Viva Salazar" gravado se esta estiver fora daquele edifício, longe dos desenhos do Tom...
Destruir, desmantelar, modernizar afectando estruturalmente o "Museu de arte popular" é um crime, primeiro de falta de reflexão, segundo de gesto iconoclasta sem fundamento.

Por outro lado, a sua conservação (explicando-o, contextualizando, musealizando o Museu) é um gesto de estudo patrimonial da maior riqueza e modernidade. É uma oportunidade radicalmente única de produzir uma máquina de conhecimento, uma estrutura museológica raríssima e moderna. É urgente.

Apelo a todos, seja qual for o seu interesse, a sua perspectiva, a sua motivação, a procurar evitar este erro.

Pedro Félix, antropólogo




Boneco concebido por Tom (Thomaz de Mello) envergando miniatura de traje de pescador da Póvoa de Varzim [1937].
© IMC / MC
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Depois do colóquio

Apontamentos/balanço do colóquio de ontem por Alexandre Pomar:
Propostas não faltam: Musealizar o museu de 1948 (parte dele, em especial a Sala de Entre Douro e Minho, a mais conseguida), documentando e contextualizando como se fez este museu de Arte Popular nos anos 40, nas suas particulares condições de reflexão identitária, estética, museográfica, política, etc - a arte popular entre vanguardismo e tradicionalismo), e actualizar as suas direcções de trabalho. Explorar as memórias da Exposição do Mundo Português, de que o edifício é uma sobrevivência parcelar e parcial. Valorizar o que neste museu antecede a autonomia conceptual do design, considerando quer o trabalho criativo do grupo de pintores-decoradores (também arquitectos de interiores, cenógrafos, ilustradores, designers "avant la lettre") que trabalhou para o SPN/SNI de António Ferro, quer a própria produção popular e tradicional que o Museu recolheu). Alargar a área expositiva ou programar linhas de investigação e exposições temporárias à documentação sobre o Inquérito da Arquitectura Popular em Portugal, da Associação dos Arquitectos, 1955-61. Ou à criação artística nas margens da arte popular, pelos caminhos da "outsider art" e da "art brut". Revitalizar a relação entre o espaço museológico e a criação contemporânea, nas áreas das produções tradicionais sobreviventes e de novas práticas artesanais, que se podem designar às vezes por design e craft. Etc.

Reabrir como Museu de Arte Popular é o objectivo imediato, mas este deve acompanhar-se já com exerícios de imaginação sobre as condições dessa reabertura, que nunca poderá ser apenas repor o que lá estava até agora, em condições penosas de paralisia e decadência. Parte essencial da reflexão que agora se deve abrir é sobre o enquadramento institucional da entidade MAP: Continuar num Instituto dos Museus que em 2006 foi incapaz de defender a sua existência e cujos problemas de funcionamento-orçamento parecem irresolúveis (agravado pelas condições actuais que regulam os concursos para as direcções dos museus*)? Ou inventar uma nova estrutura funcional e de direcção, fundacional ou empresarial, semi-privada ou privada, a actuar sob a vigilância da tutela?
*Se um director (ou sub) da Cinemateca não precisa de ser funcionário público - e foi o actual ministro da Cultura que como advogado tratou de implantar aí uma diferente ordem burocrática -, porque é que só as pessoas com vínculo efectivo à função pública podem concorrer à direcção de um museu do IPM/IMC?

Alexandre Pomar

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Imagens do colóquio de hoje

(clicar sobre as imagens para ampliar)

esta tarde no MAP

esta tarde no MAP

esta tarde no MAP

esta tarde no MAP

esta tarde no MAP

esta tarde no MAP
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Assembleia Municipal defende Museu de Arte Popular

A Assembleia Municipal de Lisboa aprovou esta terça-feira uma moção em defesa do Museu de Arte Popular, na qual se pede ao Presidente da Câmara que interceda em favor do MAP junto do Governo:
Texto da moção aprovada dia 16 de Junho de 2009:

Subitamente, “pé ante pé”, eis que surge a ideia, ou mesmo a decisão, de destruir o Museu de Arte Popular, situado em zona privilegiada da Cidade, para construir o Museu da Língua Portuguesa.

Sobre mais esta decisão governamental contra Lisboa, que o Presidente da Câmara Municipal, Dr. António Costa não contesta e aceita, permitimo-nos transcrever o comentário do presidente da Direcção do ICOM – Portugal (International Council of Museums), porque bem elucidativo daquilo que está em causa – “Mas devemos desde já adiantar que entendemos constituir um erro museológico crasso desmerecer ou, pior ainda, pretender ‘apagar’ essa colecção e esse conceito de museu, sem dúvida datado e porventura incómodo para algumas elites actuais, mas incontornável em termos históricos e até cativante para muitos apreciadores dos nossos museus. Constitui, por outro lado, uma violência inqualificável, porventura mesmo um crime patrimonial, destruir ou impedir a fruição plena do edifício do museu, tanto nas suas volumetrias exteriores, como no seu interior, povoado este por frescos monumentais, alguns de grande qualidade artística.”

Perante esta decisão em que o Município é desconsiderado e em que o silêncio do Presidente da Câmara Municipal, Dr. António Costa, é ensurdecedor, impõe-se que a Assembleia Municipal de Lisboa manifeste uma oposição a esta destruição, no quadro das suas competências.

Assim, o Grupo Municipal do PSD propõe que a Assembleia Municipal de Lisboa, reunida em 16 de Junho de 2009, delibere:

1. Manifestar a sua oposição à destruição do Museu de Arte Popular e defender uma política activa de valorização daquele núcleo museológico nos circuitos turísticos e culturais da Cidade de Lisboa.

2. Exigir que o Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Dr. António Costa, defenda, junto do Governo, os interesses de Lisboa, tal como sufragados pela Assembleia Municipal de Lisboa na presente Moção.

3. Dar a conhecer esta Moção ao Governo, aos Grupos Parlamentares na Assembleia da República e ao Museu de Arte Popular.

Assembleia Municipal de Lisboa, em 15 de Junho de 2009

O grupo municipal do PSD

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Ministro da Cultura anuncia encontro

Movimento em defesa do Museu de Arte Popular vai ao ministro

Públlico, 18.06.2009, Isabel Coutinho

Às perguntas dos deputados na audição parlamentar da Comissão de Ética, Sociedade e Cultura, que se centraram principalmente nos polémicos dossiers do Museu dos Coches e do Museu de Arte Popular, o ministro da Cultura respondeu ontem na Assembleia da Républica que são decisões que já vinham de ministros que o antecederam (ele está em funções há ano e meio) e que a contestação pública só está a ser feita agora.

José António Pinto Ribeiro não quer que se tomem decisões que sejam erradas nomeadamente em relação ao Museu de Arte Popular (MAP) mas diz também que não é possível paralisar as acções em função da intervenção de pessoas, é preciso saber quais as soluções para aquele espaço. "O Museu da Língua será feito mas estamos disponíveis para um debate sério e fundado" em que se inclua a preservação do edifício e dos painéis. Revelou ainda que os responsáveis pelo movimento cívico de defesa do MAP lhe pediram uma audiência na terça-feira e que vão ser recebidos. (...)

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Ministro da Cultura reafirma a decisão de instalar o Museu da Língua no Museu de Arte Popular

Em entrevista no Jornal de Letras de ontem e em declarações ao Público (ver artigo), António Pinto Ribeiro volta a insistir na instalação do Museu da Língua no Museu de Arte Popular ao mesmo tempo que admite reavaliar o processo:
Anúncio no final de uma audição na Assembleia da República

Ministro da Cultura vai receber movimento cívico de defesa do Museu de Arte Popular

17.06.2009 - 17h38

Os responsáveis pelo movimento cívico de defesa do Museu de Arte Popular (MAP) vão ser recebidos pela tutela da Cultura para discutir o futuro daquela entidade museológica, revelou hoje o ministro José António Pinto Ribeiro. No final de uma audição na Assembleia da República, o ministro referiu que o grupo de cidadãos que se tem mobilizado em defesa do MAP pediu na terça-feira uma audiência, mas não especificou quando será o encontro.

"Nós estamos dispostos a fazer uma reavaliação, a falar com as pessoas. É preciso compreender que não podemos viver num regime de paralisia dos processos de realização daquilo que são os propósitos de um governo legitimamente eleito. Não podemos pôr isso em causa", sublinhou Pinto Ribeiro.

O futuro do Museu de Arte Popular foi um dos assuntos que dominou hoje a última audição parlamentar de Pinto Ribeiro nesta legislatura.

Perante as questões dos deputados do PSD, PCP e Bloco de Esquerda sobre esta matéria, José António Pinto Ribeiro reafirmou que o Museu Mar da Língua será criado no edifício onde antes funcionou o MAP e que este é um processo que herdou da sua antecessora, Isabel Pires de Lima.

Ainda assim, não retirou importância à discussão em torno do espólio do MAP, que está actualmente depositado no Museu Nacional de Etnologia, e em torno da noção de arte popular e de "craft design", que utiliazam elementos populares e artes manuais. "O debate público chega muitíssimo tarde, mas não quer dizer que não seja justo e oportuno", referiu o ministro da Cultura.

Em defesa do MAP

O movimento cívico de defesa do MAP integra nomes como a historiadora Raquel Henriques da Silva, a artista plástica Joana Vasconcelos, Catarina Portas e Rosa Pomar. No sábado, este movimento cívico organiza um colóquio em frente ao edifício que albergou o Museu de Arte Popular, em Belém.

O encontro, que pretende debater a importância da existência de um Museu de Arte Popular, contará com as participações de Raquel Henriques da Silva, Rui Afonso Santos, Vera Alves, João Leal e Alexandre Pomar.

Esta iniciativa junta-se a outras acções de defesa daquele museu organizadas por este grupo de cidadãos, como o lançamento de uma petição pública e a entrega ao ministro da Cultura de um pedido de reabertura do processo de classificação do edifício do Museu de Arte Popular. No dia Internacional dos Museus, numa acção de protesto, foi bordado um lenço de namorados e posteriormente pendurado numa das fachadas do edifício do museu.

Público, Última Hora, 17.06.2009


Jornal de Letras, Artes e Ideias, 17 Junho 2009, p. 14 (entrevista de Maria Leonor Nunes e Luís Ricardo Duarte).

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Catarina Portas no Semanário Económico



(...) Assumiu a salvação do Museu como causa

Sim. Estou muito envolvida nisso, em evitar que o Museu da Língua destrua o Museu de Arte Popular. Não nos opomos ao Museu da Língua, bem entendido. Acho que é uma excelente ideia, acho é que ele não deve ser colocado ali. O Museu de Arte Popular é um museu e deve conservar uma parte histórica, porque é um dos poucos museus de raiz em Portugal para determinado espólio e tem muitos trabalhos de muitos artistas modernistas portugueses daquela época, muito interessantes e alusivos ao país. Quando digo que o edifício é o todo é porque foi mesmo construído como um todo e achamos que parte disso se deve manter.

(...)

Quando as senhoras da loja do MoMa, trazidas pelo Ministério da Cultura, para investigar o design, ficam babadas em frente às gamelas de madeira talhadas numa só peça por artesãos, e acham aquilo uma peça de design deslumbrante e querem levar a Nova Iorque, tenho vontade de lhes dizer: "Pois é. O mesmo ministério que vos trouxe é aquele que quer acabar com o Museu de Arte Popular". Chamo a isso parolice. Às vezes há um alto grau de parolice nas pessoas que nos comandam. Estão todas deslumbradas quando se fala em Nova Iorque e não percebem onde está o seu potencial.

Catarina Portas em entrevista à revista Outlook (suplemento do Semanário Económico), 13 de Junho de 2009.



Gamela portuguesa de madeira. Imagem © Feitoria
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Colóquio público sobre o MAP no próximo sábado, dia 20 de Junho

Catarina Portas, Joana Vasconcelos, Rosa Pomar e Raquel Henriques da Silva anunciam uma nova acção a favor do Museu de Arte Popular

O Museu essencial e incómodo: As razões de um protesto: fala quem sabe sobre o Museu de Arte Popular

20 de Junho a partir das 16h frente ao MAP
 
Após uma acção pública de protesto, bordando um lenço de namorados, no dia dos Museus; após a entrega de um pedido de reabertura do processo de classificação do edifício do MAP ao Ministro da Cultura (até ao momento sem resposta); após o lançamento de uma petição pública online em defesa do MAP (quase nas 4.000 assinaturas em 15 dias); após a criação de um blog que tem recolhido informação, documentos e depoimentos de vários especialistas e estudiosos sobre este tema; o grupo dinamizador da campanha cívica a favor da reabertura do Museu de Arte Popular decidiu organizar um  colóquio público interdisciplinar sobre a história e a importância do MAP.

Acontecerá no próximo sábado dia 20 de Junho, a partir das 16h00, diante do Museu de Arte Popular e contará com as intervenções de oradores especialistas de história de arte, antropologia e crítica de arte. 

Temas a abordar: 

Do Pavilhão da Vida Popular ao Museu de Arte Popular - o edifício de 1940 e a sua adaptação a Museu pelo arq. Jorge Segurado (1942-47); as esculturas de 1940 e as de 43-47;  as pinturas murais (decoração, ilustração, museografia), um património ignorado pela história da arte e por identificar; o edifício e a sua decoração - um projecto integrado; o MAP e as suas colecções à luz da antropologia actual.

Raquel Henriques da Silva
Professora de História de Arte da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa

Rui Afonso Santos
Historiador de Arte, Museu do Chiado

Vera Alves
Antropóloga, autora de «Camponeses estetas» no Estado Novo: Arte Popular e Nação na Política Folclorista do Secretariado da Propaganda Nacional.

João Leal
Professor de Antropologia da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa

Alexandre Pomar
Jornalista e crítico de arte

Diante de uma decisão ministerial que pretende instalar o Museu da Língua no Museu de Arte Popular, destruindo-o para sempre, uma medida baseada numa imensa ignorância sobre a sua importância e história, propomos uma sessão para ficar a conhecer melhor este Museu. Afinal, por que razão protestamos? 

O Ministro da Cultura será convidado a estar presente.

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O Museu de Arte Popular e a Política do Gosto do SPN

Uma das ideias que acompanhou a política do SPN em torno da arte popular portuguesa foi a da promoção de uma estética simultaneamente moderna e nacional, alargada a várias áreas da vida quotidiana. As artes decorativas em geral e as artes gráficas em particular foram um alvo preferencial da acção de António Ferro e a revista Panorama, criada em 1941, é o testemunho dessa estilização moderna e livre dos motivos do folclore. O Museu de Arte Popular – concebido também como fonte de inspiração para as artistas portugueses -- foi uma peça fundamental dessa política do gosto levada a cabo por Ferro em colaboração com a equipa de pintores-decoradores do Secretariado.  

Neste sentido o Museu de Arte Popular e toda a política etnográfica do SPN/SNI encontra-se já em embrião nos anos 20. Logo em 1921, António Ferro dirigiu a Ilustração Portuguesa, revista que, ao mesmo tempo que defendia a integração de Portugal “na hora que passa”, fazia a promoção de uma estética folclorista na criação de bailados portugueses modernos – uma ideia que só viria a tomar forma com o Verde-Gaio, em 1940. A preocupação de Ferro era então a de construir uma imagem de Portugal enquanto nação moderna, plena de vitalidade no tempo presente, mas mantendo uma identidade distinta de todas as outras nações. Em 1922 as suas convicções foram certamente reforçadas com a sua participação na Semana de Arte Moderna em São Paulo, que reunia um grupo de artistas brasileiros precisamente preocupados em conjugar o moderno com a procura das raízes da cultura brasileira.  

A existência do MAP, acompanhada pela edição da revista Panorama, pela criação do Verde Gaio ou ainda pela edificação das Pousadas de Portugal documenta muito mais do que uma ideologia política própria do Estado Novo. Testemunha um pensamento de raiz modernista que atravessou fronteiras e contagiou intelectuais e artistas como o mexicano Diego Rivera ou os brasileiros Mário de Andrade e Heitor Villa-Lobos.

Vera Marques Alves




Capas de Bernardo Marques para a revista Panorama (números 1, ano 1, 1941 e 8, ano 1, 1942).


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site petitiononline.com em baixo

À beira das 4000 assinaturas, a petição pelo Museu de Arte Popular está neste momento inacessível.  O problema afecta todo o site Petition Online (onde a petição pelo MAP está alojada), e deve-se a um ataque DoS. Esperamos que o problema se resolva brevemente.
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Evitar a Morte do Museu de Arte Popular

O artigo de opinião que João Leal (JL) e Raquel Henriques da Silva (RHS) publicaram em O Público (Março de 2008) sobre o fim anunciado do Museu de Arte Popular (MAP), fala de um museu mal amado. A expressão não podia ser mais apropriada e merece alguma reflexão. A decisão da ex-ministra da Cultura foi o culminar de um processo de negligência e abandono que durava há décadas. E não apenas, como alguns fazem crer, pelo facto do edifício do museu não ter sofrido obras de beneficiação durante largos anos. Os contornos desse abandono são também de ordem museológica e científica: mostrar um museu inaugurado em 1948 pelo SNI (órgão da propaganda do Estado Novo), sem qualquer tipo de contextualização das ideias que presidiram à sua formação, como se o mesmo tivesse acabado de ser concebido, transformou o MAP num lugar algo fantasmagórico.

O museu atraía menos visitantes do que se desejava? É óbvio que sim. Só alguns iniciados, com informação suficiente para reportá-lo à política de uma certa época podia usufruir plenamente do mesmo. A falta de dinâmica transformou-se, pois, numa postura profundamente elitista, deixando a maior parte das pessoas que ali entravam à sua sorte, desprovidas de qualquer ferramenta que as levasse a perceber o que estavam a ver. Poderiam apreciar as peças expostas mas nada lhes dizia o que quer que fosse sobre o que se pretendia mostrar nos anos 40 através daqueles artefactos, nem porque é que eram aquelas objectos e não outros que surgiam em exposição. Porque o que ali estava não era só arte popular e artesanato. Era uma certa visão dos mesmos.

Tal visão não era, contudo, um mero epifenómeno do salazarismo (transcendendo aliás em muito a ideologia do regime); era fruto de um conjunto de circunstâncias históricas que tinham a ver com os percursos da etnografia, não só em Portugal, mas também no resto da Europa (veja-se o livro Etnografias Portuguesas de João Leal); relacionava-se com a construção da imagem dócil do país e do povo subjacente ao projecto de afirmação de Portugal entre os portugueses e face ao mundo que guiava toda a campanha folclorista de António Ferro; tinha, como pano de fundo, uma política de gosto virada para as classes médias da época, estando por isso associada a uma fase determinante das artes decorativas no nosso país; constituía-se como alternativa à celebração da nação apenas através da história. Neste sentido o espaço do museu – a arquitectura do edifício, o seu arranjo decorativo e disposição das peças, as pinturas murais dos pintores modernistas – é essencial para perceber a colecção de objectos que albergava.

Em vez de matar o museu, é de facto altura de, como propõem JL e RHS, musealizá-lo. As possibilidades de exposições temporárias que explorem diferentes dimensões das práticas e representações ligadas ao museu são infindas. Poder-se-á, assim, transformar o Museu de Arte Popular num museu actual, que interesse não apenas aos que procuram apreciar e compreender a arte popular (e sobre este aspecto muito há a dizer), mas também aos que desejam entender a história contemporânea de Portugal. Com arquivos e bibliotecas convenientemente tratados e as colecções estudadas, poderá ser também um excelente local para estudo e investigação. Acabar com ele obedece à mesma lógica subjacente ao abandono dos arquivos históricos durante décadas em armazéns infectos; ao desinvestimento na Biblioteca Nacional; à (não) política de património que deixa emparedar as moradias modernistas construídas nos anos 30 e 40 -- percorra-se as ruas do Estoril que não se vêm a partir da Marginal, para verificá-lo (algumas, aliás, da autoria de Jorge Segurado, o mesmo arquitecto que concebeu o projecto de transformação dos pavilhões da Exposição do Mundo Português no MAP). Aposte-se, pois, na requalificação do MAP e evite-se a sua morte arbitrária.

Vera Marques Alves

Vera Marques Alves, antropóloga, é autora de «Camponeses estetas» no Estado Novo: Arte Popular e Nação na Política Folclorista do Secretariado da Propaganda Nacional, Dissertação de Doutoramento, ISCTE Departamento de Antropologia, Lisboa, 2007
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Depoimento de Rui Afonso Santos

Inaugurado em 1948, o Museu Nacional de Arte Popular constitui a despedida e o testamento espiritual de António Ferro. Director do SNI (Secretariado Nacional de Informação) desde 1933, Ferro desenvolveu à frente deste organismo considerável actividade cultural de índole modernista. Os sucessos como comissário das representações portuguesas enviadas às Exposições Internacionais de Paris (1937), de Nova Iorque e São Francisco (1939), premiadas pela crítica internacional, materializaram-se neste Museu em vias de classificação patrimonial.
Reaproveitando o Pavilhão da Vida Popular riscado pelos arquitectos Veloso Reis e João Simões para a Exposição do Mundo Português de 1940, único pavilhão que resta daquele magno certame (com esculturas e relevos murais exteriores de Barata Feyo, Maria Keil e Henrique Moreira), o edifício recebeu arranjos arquitecturais interiores de Jorge Segurado, design expositivo do próprio Segurado e Tomás de Mello /Tom e legendas de António Ferro, tudo numa qualidade museográfica inédita, absolutamente moderna e, à época, raríssima.
Tornando perenes as soluções decorativas desenvolvidas para as Exposições Internacionais pela equipa de decoradores modernistas (Fred Kradolfer, Bernardo Marques, José Rocha, Carlos Botelho, Thomaz de Mello/Tom, Emmerico Nunes, Paulo Ferreira, Estrela Faria e Eduardo Anahory) que Ferro congregou, o Museu recebeu qualificados frescos murais de Tom, Manuel Lapa, Paulo Ferreira, Estrela Faria e Carlos Botelho, bem como fotografias de Mário e Horácio Novais e de outros fotógrafos modernistas.
As soluções museológicas não se orientaram pelos modelos modernistas norte-americanos que, nos anos 30, o MOMA desenvolveu, mas pelos exemplos europeus modernistas coevos (nomeadamente franceses e alemães) que, em plenos anos 40, declinaram por toda a Europa. Bastaria esse facto para lhe assegurar a maior importância museográfica a nível internacional.

Recorrendo a materiais simples (madeiras, contraplacados, metais), com uma fluidez de espaços e cuidados de iluminação inéditos, o MAP foi o primeiro museu português com uma museologia integralmente moderna e concebida de raiz. O cuidado na apresentação das colecções foi acrescido de um sentido decorativo moderno, cenográfico e festivo que Ferro vinha desenvolvendo desde as suas «Campanhas do Bom Gosto» que lançaram os fundamentos do design contemporâneo em Portugal.
As suas colecções, ainda por estudar, constituem o documento vivo da recolha e também da invenção etnográfica desenvolvida pelo SNI desde os anos 30.
Juntamente com a produção recolhida junto de artesãos e artífices logo a partir de 1933 (barros, têxteis, mobiliário, ourivesaria, cestaria, escultura, vestuário, cutelaria, metais, instrumentos musicais, veículos, modelos de barcos), e apresentada nas exposições de Arte Popular Portuguesa que o SPN/SNI apresentou, com grande sucesso, em Tripoli, Paris, Genebra, Nova Iorque, São Francisco, Sevilha e Madrid, o MAP recolheu igualmente outro tipo de produções: desde logo exemplos de mobiliário e cerâmica que remontam ao século XVIII, e que ajudam a compreender a disseminação das formas da cultura erudita junto das classes populares. Além deles, recolheu também objectos elaborados sob orientação de artistas como Paulo Ferreira junto de artesãos - a colecção de Galos de Barcelos, por exemplo, ilustra bem esta invenção folclórica, apresentando os seus protótipos formas e tipologias bem diversas do modelo iconográfico do Galo Negro fixado nos Anos 50.

Rui Afonso Santos



Sala do Minho - Galos de Barcelos
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Instituição / Proprietário: Museu de Arte Popular
Número de Inventário do Objecto: CER 1805/83
Denominação / Título: Representação zoomórfica - Galo de Barcelos - Barcelos
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Instituição / Proprietário: Museu de Arte Popular
Número de Inventário do Objecto: CER 2629/83
Denominação / Título: Representação zoomórfica - Galo de três pés - Barcelos
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