museu de arte popular

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Depoimento de João Appleton

Sou céptico por natureza, ou talvez por formação, que os engenheiros são dados a isso, a acreditarem apenas nos factos comprovados e cientificamente comprovados; por isso, nunca me deixo empolgar, nem desfaleço com as notícias que se vão lendo, vendo ou ouvindo na comunicação social, para mim a opinião pública raramente coincide com a opinião publicada e, mesmo quando parece formar-se uma opinião colectiva reservo a minha, não vá o diabo tecê-las.

Mas, e apesar disso, a constância com que se vão debitando e remoendo notícias das mais variadas origens acerca do Museu de Arte Popular, mesmo o meu cepticismo vacila, alguma coisa anda no ar, embora de contornos imprecisos, como é de bom tom num país em que a franqueza nunca fez fortuna.

Afinal, há uns quantos anos fui tirado do meu sossego com um convite para colaborar na reabilitação do edifício do Museu, naturalmente na sua componente estrutural, de coberturas e de drenagem, uma vez que aqui estavam os problemas que afligiam o Museu, lhe quebravam o ânimo, que um museu, mesmo de arte popular, não se fez para estar à chuva nem para ter os pés dentro de água.

O convite veio, julgo a esta distância, do então Instituto Português de Museus, por interposta e entretanto extinta Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, e a ideia inicial seria a de se refazer inteiramente a cobertura,
estrutura incluída e mais o amaldiçoado fibrocimento que o amianto condenara; como não sei fazer arquitectura, e nem mesmo tento arremedá-la, requeri presença de arquitecto que entendia essencial para diferentes desenhos e escolhas que
a minha leveza de simples engenheiro não me consentia, daí a entrada do Victor Mestre em quem sempre me apoiei, então ainda bem-quisto na ex-DGEMN.

Para surpresa de alguns, admiti-o então e agora também, propus que se mantivesse a estrutura de cobertura, de madeira e aço que se apresentava escorreita, aqui e ali adoentada, mas não nas salas principais, apenas carecendo de alguns tratamentos e carinhos, como é normal em edifícios de meia idade; então, como agora, pareceu-me importante conservar sinais bastantes da construção original, efémera enquanto da Exposição do Mundo Português, com perenidade consentida com a promoção a Museu.

Não me moveu qualquer espécie de saudosismo, que o Estado Novo nunca me seduziu, mas tão somente a preocupação com a leitura integral e correcta de um edifício quase monumento, exemplar escasso dum momento histórico que não devemos esquecer, gostando ou não dele; além disso a estrutura, repito, estava generalizadamente em estado razoável de conservação, provavelmente já resultado da transformação em museu.

Deu trabalho, que é sempre mais fácil demolir e fazer de novo, reparar e reforçar o existente é trabalho duplo ou triplo e o trabalho correu devagar, em fases e sub-fases, ao longo de anos, mudando empreiteiros e soluções; no final, que é quase como tudo está agora, ficou o edifício renovado na cobertura, bem drenado e estruturalmente competente, preparado para mais umas décadas de vida útil.

O espólio do Museu andou em bolandas, mas sempre na esperança de voltar a casa e aquela é a casa e a cara do Museu de Arte Popular; não me aborrece a Língua que também me pertence, mas ali o seu museu, porquê? Entre tantos edifícios públicos mais ou menos vazios e abandonados logo aquele que tem destino certo, que na sua simplicidade quase ingénua, nos materiais e nos elementos decorativos, tinha que ser para as Rosas Ramalhos que sempre tivemos.

Bem vistas as coisas começo a sentir-me indignado com as notícias que talvez nem sejam verdadeiras, podem ser apenas boatos insidiosos próprios de campanhas eleitorais e a minha indignação, perdoem-na, é dupla, pois como cidadão quero o Museu de Arte Popular e quero-o ali, onde trabalhei para lhe viabilizar a velhice.

Depois da derrocada de parte do telhado da sala do Algarve a 19 de Outubro de 1999, foi solicitado ao engenheiro João Appleton em Fevereiro de 2000 pelo então IPM um estudo para uma nova cobertura. O engenheiro João Appleton, com grande experiência em obras de reabilitação aconselhou a que se optasse por um trabalho de reabilitação, uma solução menos sofisticada mas com mais compatibilidade com a estruturas das paredes e favorável para o edifício no seu todo, garantindo estabilidade e durabilidade. 


1 comentários:

6 de junho de 2009 às 23:47 RAQUEL HENRIQUES DA SILVA disse...

Caro João Appleton

Que grande alegria vê-lo associado a esta causa. Peço-lhe que mostre a sua indignação em todo o lado que possa. Confirmando a plena verdade dos factos que o MC despreza e que a anterior MC ignorou: as obras que foram feitas no edifício do MAP, com candidatura a fundos europeus, destinavam-se a preservar o museu, começando naturalmente pelo edifício mas era intenção do IPM que se estendessem depois à museografia e à comunicação.
O que está a acontecer é um aproveitamento ignóbil de um projecto justo e consistente. O MC desconhece-o, o IGESPAR pemritiu que assim fosse e o Consleho consultivo do IGESPAR jaz calado... VALE VOCÊ POR FAVOR!!! pORQUE NÃO FAZER PUBLICAR A SUA OPINIÃO EM JORNAL DE CIRCULAÇÃO???

bEM HAJA!

RAQUEL hENRIQUES DA sILVA

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