museu de arte popular

Avatarfechado em Belém mas aberto aqui

Depois do colóquio

No Colóquio sobre o Museu de Arte Popular que ocorreu no último Sábado, dia 21 de Junho, debateram-se várias ideias sobre o futuro do MAP. Essas ideias não nasceram de uma inspiração repentina; foram amadurecidas a partir de investigações sobre o museu e a política cultural do SNI e nascem de um olhar aprofundado sobre a história da arte em Portugal, por um lado, e de uma análise antropológica sobre os diálogos entre o popular e o erudito por outro.

Como explicou Alexandre Pomar, reabrir o museu não é devolvê-lo à morte lenta em que se encontrava. Uma das ideias que está em cima da mesa – a entrecruzar com vias de revitalização paralelas -- é usar o que foi feito na época para pensar os modos de apropriação da cultura popular por parte do SNI e confrontar os visitantes do Museu com esse contexto. Qualquer colecção, criada hoje ou há um século, nasce de um ponto de vista. O Museu de Arte Popular -- porque nele a colecção e o edifício foram pensados em conjunto -- oferece-se como estrutura museológica única para pensar as modalidades de selecção e reinvenção da cultura popular na primeira metade do século XX em Portugal. E, a partir desse quadro, reflectir sobre as aproximações intelectuais e políticas à arte popular desde finais do século XIX até à actualidade, aspecto que poderia ser explorado através de exposições temporárias regulares.

No que diz respeito à política folclorista promovida por Ferro, deve acentuar-se que a colaboração dos artistas modernos nas acções de carácter etnográfico do SNI, de que o MAP é testemunho, não é arbitrária. Ao contrário do que normalmente se pensa, a aposta do SNI na arte popular não pretende apenas testemunhar uma identidade assente em costumes remotos e imemoriais. O que interessa a António Ferro é a afirmação de Portugal no tempo presente; a arte popular, remetendo para a vivência contemporânea das tradições, teria essa vantagem em relação ao culto das glórias do passado: falaria de uma nação plena de vitalidade que não vivia apenas da grandeza pretérita. No contexto da intervenção do SNI, a etnografia aparece, pois, como alternativa à celebração da história.

Ao colocar o arranjo expositivo do Museu de Arte Popular e, anteriormente, do Centro Regional da Exposição do Mundo Português, nas mãos da equipa de pintores decoradores do SNI, António Ferro impedia precisamente que a arte popular fosse um mero sucedâneo do culto das antiguidades históricas. Neste sentido a reunião dos objectos de arte popular que fazem a colecção do Museu e o edifício em que os mesmos foram expostos são o reflexo de duas dimensões, profundamente interligadas de uma mesma política. Separá-los, relegando os objectos exibidos no MAP para outro espaço, prejudicaria profundamente a capacidade de compreensão da lógica que esteve subjacente à criação daquela colecção.

Vera Marques Alves, Antropóloga


Vista do Centro Regional (Exposição do Mundo Português de 1940, Pavilhão da Vida Popular). Clicar para ampliar.





Fotografias de Cláudia Varejão

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