(...) Assumiu a salvação do Museu como causa
Sim. Estou muito envolvida nisso, em evitar que o Museu da Língua destrua o Museu de Arte Popular. Não nos opomos ao Museu da Língua, bem entendido. Acho que é uma excelente ideia, acho é que ele não deve ser colocado ali. O Museu de Arte Popular é um museu e deve conservar uma parte histórica, porque é um dos poucos museus de raiz em Portugal para determinado espólio e tem muitos trabalhos de muitos artistas modernistas portugueses daquela época, muito interessantes e alusivos ao país. Quando digo que o edifício é o todo é porque foi mesmo construído como um todo e achamos que parte disso se deve manter.
(...)
Quando as senhoras da loja do MoMa, trazidas pelo Ministério da Cultura, para investigar o design, ficam babadas em frente às gamelas de madeira talhadas numa só peça por artesãos, e acham aquilo uma peça de design deslumbrante e querem levar a Nova Iorque, tenho vontade de lhes dizer: "Pois é. O mesmo ministério que vos trouxe é aquele que quer acabar com o Museu de Arte Popular". Chamo a isso parolice. Às vezes há um alto grau de parolice nas pessoas que nos comandam. Estão todas deslumbradas quando se fala em Nova Iorque e não percebem onde está o seu potencial.
Catarina Portas em entrevista à revista Outlook (suplemento do Semanário Económico), 13 de Junho de 2009.
Gamela portuguesa de madeira. Imagem © Feitoria
3 comentários:
Muito bem posto, Catarina. Quando vista de Nova Iorque, a parolice ministerial torna-se ainda maior. Já agora acrescento e elucido que MoMA = Museum of Modern Art.
Bem dito!
Subscrevo os comentários anteriores.
Acrescento que apenas o reconhecimento das nossas capacidades e valências de forma consciente é que poderá criar um entendimento sobre quem somos.
Daqui de longe sinto que temos falhas graves de comunicação.
Tudo se realiza dentro de pequenos grupos de decisão.
Uma estrutura como um museu - dinâmico na sua aproximação às questões que o justificam, poderá ser um verdadeiro motor de desenvolvimento dessa consciência mais abrangente. Como motivo para a criação de um discurso sustentado.
Caso se tivesse dado atenção ao MAP, durante o seu período de funcionamento, provavelmente a criação de um MUDE poderia ter sido uma evolução natural.
As marcas não se criam do nada. Constroem-se.
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