museu de arte popular

Avatarfechado em Belém mas aberto aqui

O dia do museu Fechado

Público, 17 de Maio de 2009

Hoje, vou bordar. Não sei bordar grandemente mas não faz mal. Vou aprender com quem souber fazê-lo, eu e todos aqueles que se juntarem a este lavor de protesto que hoje à tarde acontecerá diante das portas fechadas do Museu de Arte Popular, em Belém. Vamos bordar um Lenço dos Namorados em versão gigante declarando a nossa estima por este museu que, mais uma vez, permanecerá fechado na data em que todos os outros comemoram o Dia Mundial dos Museus. 

Desde 2006, diversas pessoas de vários quadrantes políticos ou até sem quadrante nenhum escreveram, em nome individual, sobre a decisão de encerramento do Museu. Mas, até hoje, nenhum partido se pronunciou sobre a questão. Eu pensava que os partidos também serviam para interrogar decisões políticas e arbitrárias deste tipo mas, pelos vistos, enganei-me. Até a Papa Maizena parece ter aos olhos partidários maior relevância que a destruição de um Museu único no panorama museológico português. E, no entanto, há aqui mais do que uma questão a merecer atenção, como o facto de as obras de conservação das fundações e cobertura do edifício, já terminadas, terem sido custeadas com dinheiros comunitários atribuídos para a recuperação do MAP – e, afinal, era tudo mentira. Se este é o exemplo do Estado, há legitimidade para todos os privados que concorrem aos QRENs e similares desviarem os fundos que recebem para o que entretanto lhes ocorrer?

 A verdade é que o MAP é um museu incómodo para muita gente, de esquerda e de direita. Mas faço minhas as palavras recentes e certeiras de Sara Figueiredo Costa no seu blogue www.cadeiraovoltaire.wordpress.com: (…) a cultura e o património não arrastam o seu contexto histórico como se de uma praga alastrável ao presente se tratasse. Sabemos que a Exposição do Mundo Português se realizou durante a ditadura de Salazar, mas se isso é suficiente para se destruir um Museu que não se dedica à ditadura de Salazar e sim à produção, ao imaginário e às vivências de um país, então destruamos tudo o que se ergueu durante os anos negros do fascismo. Será isso solução para lidarmos com a nossa memória colectiva?”. Muito pelo contrário, também eu acredito que “(…) o facto de o MAP ser o resultado de uma ideologia que repudiamos não só não pode justificar a sua destruição como pode ser um elemento fundamental para se estudar e compreender o período em que foi construído”. 

Face ao silêncio dos partidos que nos representam e diante da ausência de justificações do Estado, em quem deveríamos confiar para preservar a nossa história e património, resta-nos a nós, cidadãos, agirmos. Por isso, vamos pegar em agulhas e picá-los. Bordando quadras de amor popular a um Museu do qual, imagine-se, gostamos. 

Catarina Portas


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