museu de arte popular

Avatarfechado em Belém mas aberto aqui

Novelos e dedal para bordar o amor ao museu-namorado



Público. 17.05.2009, Sofia Branco

O espólio de arte popular espera empacotado no Museu de Etnologia o regresso à origem, como defende lenço a entregar ao ministro da Cultura

a Eram 12 à volta de um lenço gigante, sentados em cadeirinhas de madeira, saindo uns, entrando outros, desfiando os novelos coloridos, bordando sem parar a quadra de amor que ao museu-namorado haviam de dar. "Museu de Arte Pupular/Sem ti o que eide ser/Queres-me trocar por outro/Inda hás-de-te arrepender." 
Erros de português transformados em "grande momento criativo" à memória dos Lenços de Namorados de Viana do Castelo, justificou a artista plástica Joana Vasconcelos, uma das organizadoras do "acto de consciência cívica sobre a identidade e a tradição", organizado "em 48 horas" para protestar contra a reconversão do Museu de Arte Popular no Museu da Língua Portuguesa, decidida no Conselho de Ministros de 7 de Maio, no âmbito do plano de requalificação da frente ribeirinha de Lisboa. 
Do lado de lá dos buraquinhos das janelas do edifício nascido para a Exposição do Mundo Português (1940) estão três anos de clausura que deram em nascer ervas daninhas entre as pedras. Está o silêncio de um museu fechado que antes era visitado por "27 a 30 mil pessoas por ano" e onde havia "um mundo" de coisas para ver, um museu espoliado que se viu "sem nada" em meros 15 dias no início do ano de 2006, recorda Maria Luísa Abreu Nunes, conservadora do Museu de Arte Popular durante 27 anos.
O "sexto ataque"
Arqueóloga reformada, Maria Luísa, dedal no dedo, "agora já" pode "falar" e voltou "à guerra" contra "o sexto ataque" ao museu (a ideia de dar ao edifício outra utilização tem sido recorrente). Mas isto foi depois de "dez meses de clausura a ouvir passarinhos e a ver o mar". Porque precisou de descansar depois do "horror" que foi assistir ao despejo do espólio para o Museu de Etnologia, onde permanece "empacotado" e "invisível". 
"Foi muito violento, fomos muito maltratados", conta, explicitando que nada foi deixado - "nem uma cadeira, nem um calorífico" para enfrentar as "temperaturas negativas no Inverno" - às cinco pessoas que ficaram a trabalhar no museu após a saída do espólio de "um Portugal inteiro".
Mas agora é tempo de bordar, até porque "o museu ainda não foi extinto formalmente", apelou Raquel Henriques da Silva, historiadora de Arte e também organizadora da acção colectiva que ontem teve lugar em frente ao museu, à qual compareceram, entre outros, a artista plástica Ana Vidigal, o presidente da Fundação de Serralves, António Gomes de Pinho, o historiador Rui Tavares, a arquitecta Ana Tostões e o escritor Rui Cardoso Martins.
Bordar "é viciante", admitia a empresária e co-organizadora do protesto Catarina Portas, de avental tradicional. Quando acabado, o lenço seria entregue "ao pai do namorado", o ministro da Cultura, António Pinto Ribeiro, informou, admitindo que a acção evolua para uma petição (mas para já há um blogue: museuartepopular.blogspot.com).
O Museu Nacional de Arqueologia (MNA) só sairá do actual espaço, em Belém, para a Cordoaria depois do próximo ano, disse o director do Instituto dos Museus e Conservação, Manuel Bairrão Oleiro. O MNA será instalado na Cordoaria Nacional, à Junqueira, "em 2011, se houver condições", garantiu o responsável à Lusa. Sobre os riscos sismológicos da zona, o dirigente argumentou: "Lisboa é uma zona de risco sísmico. Todos os museus e edifícios históricos têm esse risco. Tem de ser avaliado, mas não creio que seja fundamental para que a transferência do museu não possa ocorrer." A transferência para a Cordoaria permitirá a expansão do vizinho Museu de Marinha e a exposição de parte do espólio de arqueologia subaquática.

1 comentários:

18 de maio de 2009 às 13:41 Anónimo disse...

a causa é nobre,sem dúvida, mas há aí um erro ortográfico grave..."sem" com "c"

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