museu de arte popular

Avatarfechado em Belém mas aberto aqui

Joaquim Pais de Brito: "Está tudo preparado para voltar a casa"



Excertos do artigo de Ana Machado no Público de hoje (ver artigo completo):
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Noutra ala das reservas do Museu de Etnologia estão os têxteis. "Eram a parte do espólio mais bem tratada e catalogada." São dezenas de pequenas gavetinhas metálicas com paninhos alvos bordados, envoltos em papel de seda. E armários, que se estendem por todo o comprimento da sala, fechados, que escondem trajes tradicionais, roupas de cama e casa e peças de maior porte.

"Fiz questão que fossem todas marcadas. Está tudo preparado para voltar a casa. Ou para servir o fim que o ministro indicar", diz o director [Joaquim Pais de Brito].

"Ainda falta arrumar a colecção de ex-votos e objectos ligados à vida religiosa", lembra Pais de Brito. "Hoje sabe-se mais sobre o Museu de Arte Popular do que alguma vez se soube."

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Raquel Henriques da Silva, historiadora de arte e ex-directora do Instituto Português de Museus (actual Instituto dos Museus e da Conservação), um dos nomes mais destacados da luta em defesa do Museu de Arte Popular, frisa a importância do espólio da instituição: "Tem colecções muito importantes e reflecte a visão da cultura popular. E temos uma nova geração interessada nesta área da cultura quer em termos de trabalho quer em termos expositivos", defende a especialista, para quem só no espaço para que foi criado, junto ao Tejo, o Museu de Arte Popular faz sentido. A investigadora é uma das mentoras da petição que defende a classificação do edifício e a manutenção do espólio no lugar de origem, já entregue ao ministro da Cultura.

"Estamos perante uma obra que funciona como um todo. A nível de construção e desenho encerra um tipo de arquitectura praticada pelo Estado Novo. Constitui um documento único para a investigação contemporânea sobre a política do Estado Novo", diz ainda Maria Barthez. A investigadora lembra que nem na ditadura este museu foi amado.

"O museu já era mal-amado no Estado Novo. Nos anos 50 já tinham de fazer obras e já não havia dinheiro nessa altura. Foi sempre um museu inacabado. E mesmo assim era o museu mais visitado na década de 1960 a seguir ao dos coches." Nos últimos anos de existência, antes de fechar as portas, o museu recebia anualmente cerca de 32 mil visitas.

Maria Barthez alerta para o futuro da arte popular: "As pessoas não conhecem o que é a arte popular e o que se está a perder com o fim dos artesãos. Somo um país pequeno, com tanta identidade e variedade. Devíamos estimar mais isso."

Mas para Pais de Brito a relação com o Estado Novo é a principal razão pela qual o debate em torno do encerramento do Museu de Arte Popular não colhe mais apoio. Apesar de frisar que os problemas que afectavam a instituição eram muitos. "Acho pouco consistente esta forma súbita de querer pôr trancas à porta quando a porta já foi arrombada há tanto tempo. O problema do Museu de Arte Popular não é de agora. Mas parece que todos estavam satisfeitos." E questionado sobre se seria possível reinventar hoje o Museu de Arte Popular, Pais de Brito responde: "Não me posso pronunciar, já que esse debate não foi aberto."

Alguns dos trabalhos de restauro do espólio do Museu de Arte Popular podem ser acompanhados no blog do Museu Nacional de Etnologia.

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