museu de arte popular

Avatarfechado em Belém mas aberto aqui

A Língua de fora, já!

Na próxima segunda-feira, dia 18 de Maio, celebra-se o Dia dos Museus. Tristemente, o Museu de Arte Popular permanecerá encerrado, como tem acontecido desde 2004, quando fechou para obras de conservação. 

Hoje, as obras de cobertura e fundações estão feitas. Mas entretanto, em 2006, a então Ministra da Cultura anunciou a peregrina ideia de instalar um Museu da Língua, precisamente no edifício do MAP. No passado dia 7 de Maio, o Conselho de Ministros aprovou a instalação do Museu da Língua no edifício do Museu de Arte Popular, acabando assim com o único Museu dedicado às artes e ofícios português, com abrangência nacional. 

Não nos opomos ao projecto do Museu da Língua. Opomo-nos certamente à sua instalação neste local, que implicará a ocultação, degradação e destruição dos seus interiores, decorados por muitos artistas importantes do séc. XX português. E não entendemos porque é que o nascimento de um novo museu deve acarretar a morte de um outro, absolutamente único no panorama museológico nacional.

Neste momento, a importante colecção de artesanato do MAP está escondida nas reservas do Museu de Etnologia: invisível, portanto. O seu edifício, o único que restou da Exposição do Mundo Português, está ameaçado por um projecto de adaptação que o ameaça tornar irreconhecível. E o conjunto, edifício e colecção, a mais importante peça de estudo sobrevivente da Política do Espírito do regime salazarista, vai para o lixo, com total desdém pela vontade de saber e espírito crítico das gerações vindouras.

Chega de tanta incúria e leviandade com a história e o património. Vamos mostrar que desaprovamos esta resolução do Conselho de Ministros, que recusamos uma política cultural sem razão e critério, que não nos conformamos com uma decisão que condena à morte um Museu que ainda acreditamos poder vir a ser um objecto instigante de conhecimento, reflexão e acção.

A nossa língua é a Arte Popular.

3 comentários:

15 de maio de 2009 às 20:49 Anónimo disse...

Visitei uma vez o Museu de Arte Popular. Apesar do pó que já cobria tudo, a curiosodade sobre o que lá vi e sobre o que não vi, manteve-se. Tinha esperança que reabrisse. Realmente pode funcionar como um local de passagem de testemunho entre gerações.
Não poderemos fazer nada para que o Museu não desapareça? não há ninguém que possamos encher de mails, para que perceba que existe muita gente interessada em conhecer melhor as nossas tradições e modos de viver? Nem uma petição fará mudar o Ministro de Ideias? ou pelo menos repensar... não conheço muito bem as formas posiveis de intervir, mas tem que haver alguma!
Por estar longe, não vou estar em belem no sábado, com grande mágoa minha...
Parabéns pelo bom trabalho.
Bárbara Lopes
barbaraclopes@gmail.com

16 de maio de 2009 às 14:51 Anónimo disse...

Infelizmente não posso estar em Belém hoje... tenho muita pena. Passei a mensagem a amigos e familiares que concerteza estarão. Tenho seguido de perto as angústias de quem luta pelo MAP e compreendo muito bem, pois luto por outro tipo de património, também muito nosso. É terrível querer ter acesso a informação, espólios fantásticos que fazem parte do nosso património edificado, que estão escondidos, encafuados e fechados a sete chaves, querer recuperá-los, estudá-los e mostrá-los e a resposta ser sempre não, não, não...
Muitos parabéns pelo vosso esforço e trabalho.
Força e contem comigo.
maria

17 de maio de 2009 às 14:43 Catarina Valença Gonçalves disse...

Gostaria de sublinhar a dimensão "negócio" do MAP, diria mesmo de "óptimo e crescente negócio": existe uma procura crescente por parte de nacionais e turistas pelo autêntico, característico, irrepetível, genuíno. Este consumidor tem uma forte capacidade económica: despende uma grande percentagem da sua verba disponível para "lazer" em consumo cultural ou dele derivado (por exemplo, merchandising associado ao local de visita; ou produtos directamente relacionados com ele - lojas como "A Vida Portuguesa", gastronomia tradicional, espectáculos populares, etc...) tornando-se consequentemente, um forte indutor do desenvolvimento sócio-económico local. Acresce que se trata de um excelente promotor das suas experiências (fenómeno "boca-a-boca" quer para outros consumidores, quer para efeitos de comunicação social especializada); e, por fim, trata-se de um consumidor particularmente fiel - regressando com frequência ao local que o impressionou.
Por isso, e tão simplesmente quanto isso: uma estrutura edificada que já existe, uma localização privilegiada, uma colecção já construída, uma óptima oportunidade de negócio não se deita para o lixo. Se o Estado não quer explorar esse negócio, crie um regime de concessão para exploração privada. Eu concorro.

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